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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Silêncio: Quando estar sozinho é bom!


Desde que a criança nasce há um esforço da sociedade para que ela se ocupe. Para que seja estimulada a conviver com outros. Para que se socialize, e que interaja com o mundo mediada pelo adulto. Para que seja entretida. 

Muitas cores, barulhos e sons, muitos estímulos para que a criança saia de si mesmo para observar o mundo.  
Sem que tenha tempo para descobrir a alegria de ter pensamentos sozinhas, é estimulada excessivamente com barulhos diversos.
Sem que possa observar a natureza em seu ritmo, é estimulada a observar pelo ritmo escolar. 
Sem que tenha descoberto e explorado o seu mundo familiar, é levada a distanciar-se do lar.
A criança precisa da família e do silêncio, para observar e criar pensamentos e hipóteses em relação ao mundo que a rodeia. Com suas memórias ela irá construir suas primeiras narrativas e assim desenvolver-se mentalmente. E estas narrativas são fundamentais para o desenvolvimento da linguagem. A neurociência atual diz que a criança utiliza partes diferentes do cérebro quando narra uma história, e que estas novas conexões desenvolvem a sua linguagem. 

E como poderá realizar toda esta complexa atividade se não tiver primeiro criado memórias, depois, pensado sobre estas memórias para então transformá-las em palavras? 
Qual o tempo e o espaço que estamos oferecendo para a criança se desenvolver naturalmente?  

Suspeito que a criança não fará isto por si mesma dentro do relógio escolar, mas sim, em seu relógio interno. Só em seu próprio tempo a criança poderá desenvolver uma narrativa original, interagindo com o que ouve e vê, e em seu tempo, transformando isto em seu pensamento. 

Isto nos leva a perguntar : Será que o objetivo atual do ensino é que todas as crianças desenvolvam a mesma narrativa? 

Por que não há tempo para o silêncio? E não falo do silêncio fabricado em salas de aula, com técnicas, mas o silêncio natural que vem de dentro.

Sim,  as técnicas poderão ajudar aquelas crianças que precisam frequentar a escola (por motivos familiares) ou que estão em escolas especializadas e aplicam o silêncio de forma organizada como no método Montessori. No entanto, para as crianças que estão com suas famílias durante toda a primeira infância, a técnica pode ser menos necessária do que o bom exemplo.  Uma forma eficaz de ensinar o silêncio, dentro do lar, é silenciando e em família, aprendendo a silenciar.


Ter o silêncio como prática diária. Manter os eletrônicos desligados. Ouvir a natureza. Ouvir o ambiente. Silenciar o lar como parte da rotina. Não é preciso passos ou tempo para se fazer isto, não estamos aprisionados em grades curriculares, o dia possui 24horas de oportunidades para ouvir o silêncio e aprender a silenciar. Faça ser parte da rotina. Que não seja um momento isolado ou uma exceção, mas a regra. E que a quebra do silêncio seja a exceção. 

Lembre-se: No silêncio, enquanto ouve o mar, enquanto observa o vento nas folhas de uma árvore, ou persegue com os olhos o caminhar de uma formiga, a criança lê a natureza e assim aprende a ler a si mesma. E aprende a ler a família.
Aprende a concentrar-se e aquietar-se e a ouvir o mundo.
A perceber-se como parte de um todo muito maior.


Uma pergunta que me fiz escrevendo este texto  é: Será que uma criança que aprende a conviver primeiro consigo mesma, poderá ter mais chance de saber lidar com os problemas da vida adulta?  (Onde a maioria das decisões importantes são tomadas individualmente e primeiramente dentro da consciência ).

Eu não tenho a resposta, mas se isto for verdade, é urgente criarmos  nossas crianças para não temerem o silêncio, como alguns adultos que não conseguem ficar um minuto do dia sem estímulo auditivo ou visual (seja ligando a televisão ou ouvindo música, ou vendo vídeos). Adultos que não suportam o silêncio, pois é no silêncio que poderão ouvir a si mesmos .

E crianças que não tenham medo de dormir sozinhas no escuro, quando não há nada de assustador ali, apenas a ausência dos estímulos externos e a própria imaginação. É no escuro que podemos visualizar e ouvir nossos próprios pensamentos. 

Concluindo, como disse Maria Montessori  "As crianças não são apenas sensíveis ao silêncio, mas também às vozes que as chamam para fora do silêncio".  Que não seja a nossa voz que constantemente retira a criança de seu estado de silêncio, mas a voz que a chama quando realmente tem algo para lhe falar.  

Não precisamos ter medo da criança estar sozinha com seus pensamentos, pois nestes momentos, estar sozinho é bom.

Na imagem que ilustra este post, meu filho estava sentado observando o mar. Por minutos ficou ali só olhando as pequenas ondas, às vezes batia na água e ria. Depois silenciava. Eu fiquei observando ele absorvendo a natureza em sua volta e toda a riqueza daquele momento. 
Depois de muito tempo sentado e concentrado, como ele jamais ficava em outras atividades, levantou-se e brincou como sempre.  Quando chegamos em casa, e eu entrei no "modo mãe" colocando a roupa da praia para lavar, dobrando a roupa do varal e molhando as plantas  (tudo ao mesmo tempo) , ele me olhou correndo e tentando abraçar o mundo em 5 minutos rs e ele me disse: "Relaxa mamãe". "Como?" eu perguntei. E ele repetiu pausando: "Re laaaa xa". Eu ri e desacelerei. Como toda mãe, eu realmente preciso aprender a relaxar. 




Glaucia Mizuki

Leia também: 

O Iceberg da Socialização Escolar Infantil e a Falsa Tolerância.



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